Em 2011 me assumi corredor. Filho de maratonista que via o pai acordar cedo para correr e não conseguia fazer o mesmo. Eu era um amador frustrado.
Nunca me encaixei no esteriótipo do corredor de rua regular. Odeio acordar cedo para correr – hoje o faço por necessidade – e nunca me adaptei ao clima ou com a estética da comunidade de corredores de São Paulo.
Eu acho muito louco alguém se chamar de corredor de RUA e enquanto faz suas rodagens dentro de parques e campus de universidades, aonde ficamos limitados em cercadinhos como leões em um zoológico.
Não me entenda mal, conheço os motivos para treinos específicos em lugares como a USP em São Paulo, e respeito esses atletas. Só que isso, felizmente não é para mim.
Apesar de várias meias-maratonas e uma maratona em NYC, eu amo correr apenas por correr. Interagir com a cidade e todos os seus elementos, sair para rodar 5Km e acabar fazendo 15Km com a mente livre. Mas gosto mesmo é da reação química que a corrida proporciona ao meu corpo. Foi assim que eu descobri o movimento de Crews nos EUA e na Europa em 2011.
No mesmo ano fui impactado por todos os lados e de todas as maneiras pela #CoisaDaBoa. Me identifiquei com a narrativa, que não era apenas de superação, mas sim de prazer. Me apaguei com a tipografia e a linguagem da comunicação. Disruptiva e ousada. Me arrepio até hoje vendo esse manifesto:
Meu pai sempre teve um carinho por tênis da Nike, mesmo quando diversos “especialistas” criticavam a maioria dos modelos da marca nos anos 2000. Como roubava os dele para correr durante a #CoisaDaBoa, me sentia parte de um movimento de corredores anônimos, que corriam por amor e vício.
Foi assim que, eu e vários amigos, começamos a nos envolver com o esporte. Queríamos ser a contra-mão e desconstruir padrões dentro da comunidade.
Por curiosidade, a Damn Gang RC é um resultado de toda essa inquietação e motivação que foram sendo estimulados por campanhas e posicionamento como esses – que em sua maioria eram da NIKE – e pelo na época recente cenário de crews estrangeiras.
Durante a campanha era comum estar correndo na rua e se deparar com paredes cobertas por LAMBE-LAMBES e instalações de TAPE ART , e até mesmo dentro de baladas e bares. Isso sem falar nos eventos secretos que rolavam, desbloqueados apenas por ligações para um número de telefone espalhado em STICKERS pela cidade.
A #CoisaDaBoa também foi uma das melhores campanhas integradas, usando e abusando de social media e outras ferramentas digitais, de maneira inovadora na época.
A dose aumentou com a NIKE 600K, que até hoje é a competição mais falada e saudosa por aí. O desafio era uma corrida de revezamento que largava em São Paulo e terminava no Rio de Janeiro. Era foda.
Quem viveu essa época, que considero de ouro, viveu.
Mas estamos na rua, todos os dias. Correndo e tentando manter vivo esse legado.
E confesso, fico na esperança e na torcida todos os anos para o retorno da NIKE 600K. E ai, Nike? Bora?